segunda-feira, 26 de maio de 2008

Estocagem de couros

Um item ao qual se deve uma maior atenção e com a estocagem do couro; ja que esta etapa intervere diretamente na qualidade do produto final.

É fundamental que os materiais encontrem-se nas melhores condições possíveis, a fim de evitar interrupções ou modificações no sistema produtivo. Desse modo, o couro, antes de ser cortado, deve estar em boas condições. Estocagem inadequada pode provocar problemas graves, ou mesmo, agravá-los, quando o couro já vem com problemas devido ao processo de curtimento ou acabamento.

Fatores de influência:

Temperatura: A temperatura é triplamente importante na armazenagem de couros, pois é fator determinante na proliferação de mofo, contribui para migração de substâncias que não estejam bem fixadas as fibras e pode contribuir para a ocorrência de defeitos em certos couros, principalmente os vegetais que “queimam” quando expostos ao calor, perdendo resistência. Salienta-se que temperaturas acima de 25oC são potencializadoras de problemas no couro. Recomenda-se armazenar couros com temperatura ambiente entre 20 e 25oC.

Umidade: Excesso ou falta de umidade conduz a alterações no couro em termos de:
- densidade;
- superfície (área);
- flexibilidade;
- elasticidade;
- rasgamento;
- mofo.
Tem-se 60% como valor ideal de umidade relativa do ar dentro dos locais onde se armazenam couros. Com esta umidade espera-se que a umidade dos couros fique por volta de 16-17%, que é aceito como ideal.
Recomenda-se ainda que valor não exceda 70% ou que fique abaixo de 50%.

Ventilação: O armazém deve ser arejado, entretanto sem correntes de ar incidindo diretamente sobre os couros para se evitar ressecamento. Consegue-se isso posicionando as janelas na parte superior das paredes.

Luminosidade: A intensidade da luz incidente é muito importante, pois os raios ultravioleta e infravermelho atuam diretamente sobre os couros alterando brilho, cor, propriedades físicas, etc. conclui-se, portanto, que os couros devem ser armazenados em local de pouca luminosidade com janelas vedadas e cortinas escuras.

Tipo e tamanho das pilhas: No empilhamento devem-se considerar os seguintes aspectos:
- forma como os couros são empilhados: estendidos ou em rolos;
- se flor com flor ou flor com carnal;
- a altura da pilha.

Tempo de estocagem: Quanto menor o tempo de estocagem menor a chance de ocorrer os problemas comentados anteriormente. Na medida do possível recomenda-se evitar períodos de armazenagem superiores a 2 semanas.

Couro ao Vegetal: Para este tipo de material é recomendado armazenamento com menor incidência de luz possível, para evitar escurecimento da superfície e trincas da flor, quando dobrada.

O manejo de couros em almoxarifado também é fator de grande importância, recomenda-se:
- evitar ocorrência de dobras ao fazer rolos de vaquetas;
- evitar empilhamento excessivo. Limitar-se a 3 rolos;
- empacotar com flor para fora (exceto capa) para evitar quebra da flor do couro;
- não dispor couro diretamente sobre o piso;

Cuidados com o manuseio do couro durante a produção de calçados

Transporte:
· Deverá ser feito em veículo preferencialmente fechado, para que a umidade e a luz solar não interfiram no acabamento do couro.
· Os rolos de couro deveram ser transportados na horizontal, e nunca na vertical ou seja, não se deve colocar o rolo de couro em pé, para que não haja quebra nas pontas do couro.

Estocagem:
O couro deverá ser estocado em prateleiras, onde não incida luz solar direta.
As prateleiras não devem estar encostadas em paredes que tenham umidade, pois esta, fatalmente afetará o acabamento, podendo inclusive, provocar bolor no couro.
Não se deve estocar couros em ambientes que contenham poeira, pois esta se acumulara nas peles, causando diferença de tonalidade, e também se fixará no acabamento do couro.
Deve-se enrolar o couro com a flor para fora, para que esta não quebre ao ser enrolado.
Deverá ser verificado, por amostragem, se as peles tem a resistência ao rasgo desejada, bem como a ruptura de flor.

Classificação do couro dentro da fabrica:
Inicialmente verifica-se se a pele esta com a flor firme.
Deve-se classificar por tonalidades de cor, do acabamento, sendo que é admissível existir alguma variação de cor, em se tratando de acabamentos tipo anilina.
Depois de classificado por tonalidades, avalia-se a qualidade da pelaria em função dos defeitos da superfície, podendo ser classificado em peles ótimas, médias e fracas.
Com quantidades proporcionais de cada classificação do couro e possível ter-se no corte um bom aproveitamento podendo escolher a melhor classificação para peças de maior exigência.

Corte do couro:
A qualidade do couro em cada peça que compõe o sapato é muito relativa, mudando de modelo para modelo, sendo ideal que todas as pecas tenham índice mínimo de defeitos, tais como riscos e carrapatos. Estes aspectos deverão ser acordados, conforme o desenvolvimento do modelo ou da linha a ser produzida.

Acondicionamento das peças cortadas:
As peças devem ser empilhadas e amarradas por tamanhos, nunca utilizando força excessiva ao amarrar as peças, para que o cordão ou borracha não marque as peças cortadas.
As peças devem ser colocadas dentro de caixas, para que as mesmas não amassem no empilhamento.

Montagem:
Durante a montagem do calçado uma serie de processos exigem certas características do couro, como elasticidade da flor, resistência das fibras e resistência do acabamento.
É importante que o couro tenha as especificações indicadas para o modelo a ser produzido e ao mesmo tempo que as condições do processo de produção não exijam do couro mais do que foi pré-estabelecido.

Limpeza e acabamento:
Nestas etapas é importante conhecer o tipo de acabamento utilizado na confecção do couro, para que os produtos utilizados na limpeza e acabamento sejam compatíveis com o couro.

Peles exóticas

Com o avanço das modelagens dos calçados principalmente nos calçados femininos, surgiu à necessidade de inovar e criar algo diferenciados.
Apartir desta necessidade houve um grande crescimento na utilização de peles exóticas de diversos animais, como:

Avestruz, jacaré, peixe, cobra, peru, entre outros.

Com a utilização destes tipos de couro obrem-se um alto valor agregado ao produto.

Nas próximas postagens falaremos mais sobre o assunto.

Principais tipos de acabamento do couro

Após falarmos sobre o processamento do couro, e importante destacar que obtém-se uma imensa variedade de materiais que podem ser usados para os mais variados fins. Abaixo segue alguns dos principais tipos de couro obtidos com o curtimento.

Couros derivados de bovinos

Nubuck: Material o qual a flor é lixada de maneira a se obter um toque aveludado, não pode ser engraxado e requer cuidados especiais na sua manutenção. Usado em cabedal de calçados, estofamento e no vestuário.

Camurça: Normalmente um subproduto, do couro, pois é sua camada inferior. Era utilizada para convecção de luvas, vestimentas e outros produtos de menor valor agregado; com o avanço nos processos de curtimento passou a ser utilizada em larga escala em cabedais de calçados.

Box: Couro lixado, com forte pigmentação, de aparência bastante polida, fácil manutenção, porém bastante duro. Era usado em calçados clássicos ou colegial, e em artefatos e de passeio atualmente.

Metalizados: Couro acabado com aparência metálica, da qual é obtida com o uso de pastas pigmentadas metalizadas e pela transferência de folhas microporosas.

Atanado ou Vegetal: Tipo de curtimento com extratos vegetais. Este couro absorve bem água e vapor, é permeável ao suor, pouco elástico e limitada solidez à luz. Usado em solas, sandálias, calçados, estofados e artefatos.

Pull-up: Acabamento que usa produtos especiais que alteram a tonalidade do couro quando sujeito à dobra.

Sola: Couro curtido ao tanino, muito espesso. É usado em solas de qualidade. Pouco elástico, impermeável à umidade, e tem boa absorção de suor.

Couro com Pêlo: Couro bovino em que é mantida intacta a camada epidérmica (de pêlos).

Verniz: O acabamento é um filme com alto brilho, incolor ou pigmentado, liso ou com estampa. É usado em calçados e artefatos.

Polido: Couro liso de aspecto natural e lustrado obtido, principalmente, pelo acabamento da base protéica. Usado e calçados, botas e bolsas de alta qualidade.

Anilina: Acabamento realizado em couros com poucos defeitos, caracterizado pela ausência de pigmentos de cobertura. O acabamento transparente permite visualizar o aspecto natural da flor.

Relax: Couro com toque cheio, recebe gravação com uma estampa característica, que resulta em uma aparência corrugada.

Vegetale: Um couro nobre, peles pequenas, toque macio, isto o torna um produto com características naturais.

Couros derivados de caprinos

Pelica: Usado para sapatos mais clássicos ou com uma proposta de conforto, podendo até ser apresentado em sapatos de moda, pele fina, macia, normalmente com brilho, também encontrada em versão de camurça. Por ser fina em sua espessura, pode romper mais facilmente.

Mestiço: Couro macio, bastante maleável, com pouco brilho, de poros mais abertos que a pelica, mas também de boa qualidade, e apresentando características muito semelhantes a da pelica no conceito.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Curtimento e Acabamento

Continuação do processamento do couro

B) Curtimento:

O curtimento consiste na transformação das peles em material estável e imputrescível.
Com o curtimento, ocorre o fenômeno de reticulação, por efeito dos diferentes agentes empregados.
Pela reticulação, resulta aumento da estabilidade de todo o sistema colágeno, o que pode ser evidenciado pela determinação da temperatura de retração.
Nesta etapa, ocorre a diminuição da capacidade de intumescimento, aumento da temperatura de retração e o couro é estabilizado face às enzimas e aos microrganismos. Devido à grande variedade de couros, é fácil supor que são muitos os tipos possíveis de curtimento existentes, sendo o mais utilizado o curtimento ao cromo.
Em função do tipo de curtente, poderão ocorrer ligações iônicas, covalentes,etc.

C) Acabamento:

O acabamento praticamente constitui a última etapa do processamento. São aplicadas composições de produtos sobre a flor do couro por meio de pistolas ou equipamento especial. A principal finalidade do acabamento é a de melhorar o aspecto e servir, ao mesmo tempo, como proteção para o couro.

Detalhamento do processamento de peles

Detalhamento das operações envolvidas no processamento do couro

A) Operação de ribeira:

Remolho: O remolho tem por finalidade repor no menor espaço de tempo possível, o teor de água apresentado pelas peles quando estas recobriam o animal.
Além desta reposição da água, o remolho tem ainda por finalidade limpara as peles eliminando impurezas aderidas aos pelos, bem como extraindo proteínas e materiais interfibrilares.
Esta etapa deve ser convenientemente conduzida, pois qualquer excesso ou deficiência causa problemas às operações posteriores:
O remolho deficiente poderá causar flor quebradiça, provocar no couro o aparecimento de zonas mais rígidas, bem como originar couro duro e encartonado.
Já o remolho em excesso, poderá determinar outros defeitos na matéria prima, tais como furos, flor frouxa, couros sem flor, couros vazios, perda de substancias dérmicas, etc...
Para um processo de remolho de boa qualidade deve-se levar em consideração uma serie de fatores, tais como a qualidade da água, a temperatura, o tempo, a agitação do banho, o tipo de conservação, a classificação das peles , a razão peso de peles / volume de banho, etc., os quais devem ser convenientemente controlados para que se possa obter o material devidamente remolhado, sem deficiência nem excessos.

Depilação e caleiro: O processo de depilação e caleiro é feito para atender os seguintes objetivos: retirar o pêlo ou a lã da pele, remover a epiderme, intumescer e separar as fibras e fibrilas do colágeno, continuar o desengraxe que tem início no remolho e modificar as moléculas de colágeno, transformando alguns grupos reativos e algumas ligações entre as fibras. A consecução dos objetivos citados é fundamental para a obtenção de couros de qualidade, entretanto para peles em que se deseja preservar a epiderme e os pêlos ou a lã, devem-se empregar sistemas adequados de trabalho, sem depilação.

Desencalgem: Este processo remove as substâncias alcalinas depositadas ou quimicamente combinadas à pele. Na desencalagem, são utilizados agentes que reagem com a cal, dando origem a produtos de grande solubilidade facilmente removíveis por lavagem. Consegue-se assim reverter o inchamento da pele já desprovida de pêlo.

Purga: A purga age sobre as peles retirando materiais queratinosos degradados, desdobrando gorduras em ácidos graxos e glicerol e decompondo fibroplastos. Na purga, enzimas proteolíticas limpam a pele dos restos de epiderme, pêlo e gordura, originando uma flor mais fina e sedosa. Peles não submetidas a tratamento de purga apresentam tato áspero, com acentuação de certos defeitos nas operações complementares.

Píquel: O píquel tem por objetivo preparar as fibras colágenas para uma fácil penetração do curtente cromo. Para tal, o píquel deve acidificar a pele. A operação de píquel é muito importante para a etapa seguinte que é o curtimento.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Curtimento

Introdução ao curtimento

Em geral a preparação de todos os tipos de couros compreende três etapas essenciais:

1) Operação de ribeira: Etapa onde são removidas todas as estruturas e substâncias não formadoras do couro.
2) Curtimento: Etapa onde as peles previamente preparadas são tratadas com substâncias curtentes que tornam as peles imputrescíveis.
3) Acabamento: Etapa onde são executados os tratamentos complementares que darão o aspecto final ao couro pronto.


Conforme operações anteriores vamos falaremos agora de cada uma delas;

A) Operação de ribeira:
A epiderme e a hipoderme devem ser removidas nas operações de ribeira, enquanto que a derme deve ser preparada para o curtimento.
Existem situações, como no caso do curtimento de pelicas, em que a epiderme é deixada intacta.
A derme apresenta estrutura fibrosa, na qual as fibras se dispõem nas mais variadas maneiras e direções.
No preparo da derme para o curtimento, as fibras devem ser intumescidas e separadas.
Certa quantidade de substâncias que as envolve, material interfibrilar, tambem deve ser removida, dependendo do grau de flexibilidade e elasticidade desejado no produto final. Nas operações de ribeira estão incluídos o remolho, a depilação, o caleiro, a desencalagem, a purga e o píquel.

B) Curtimento:
Inúmeras substâncias agem como curtentes tornando as peles imputrescíveis; elas podem ser divididas em três categorias:

  • curtentes vegetais
  • curtentes minerais
  • outros tipos de curtentes

C) Acabamento: O acabamento inclui as operações de tingimento, engraxe, secagem e acabamento propriamente dito.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Couro

Quando se fala em calçados de qualidade, logo se pensa em calçados confeccionados em couro.
Esta comparação pode realmente ser feita, pois o couro possui várias características que tornam o calçado confeccionado em couro um calçado de alto padrão de qualidade e valor agregado.

O que é couro??????

Chamamos de couro todas as peles animais que passam pelo processo de curtimento que tem por finalidade transformar a pele animal, que se caracteriza por ser putrescível e sem resistência mecânica e térmica em um material resistente e durável possível de ser utilizado na confecção dos mais diversos artefatos.

O processo de fabricação do couro consiste numa seqüência de etapas físicas e químicas, que serão descritas e relatadas nas proximas postagens.

Com o passar dos anos foram desenvolvidos calçados com diversos tipos de materiais , como laminado sintético, tecidos, entre outros; materiais que falaremos mais tarde.